Criançada, já ao trabalho: brincar

A Importância do Brincar

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Eu conheço uma avó que cuida do seu neto de 11 meses desde pequeno.

Daquelas avós bem caricatas, uma gaúcha bem carinhosa que até nós adultos temos vontade de estar no colo. Toda vez que coloca o neto no chão para engatinhar e explorar o ambiente, ela exclama: “Vai guri, vai fazer seu trabalho!”

Mal sabe ela a sabedoria por trás da sua frase. O maior trabalho que uma criança tem é justamente o brincar.

A Importância do Brincar

Nos primeiros meses de vida, o brincar livre é repleto de descobertas fundamentais na vida daquele serzinho. O brincar tem a capacidade de situá-lo aos poucos no ambiente em que vive.

Desenvolve a concentração do bebê quando ele consegue focar a sua atenção em um único objeto e se mantém entretido nele; habilidades motoras infinitas; autonomia emocional materna (porque durante um período algo além da mãe o satisfaz); é o início de uma pequena socialização com outras crianças e a parte de exploração sensorial do mundo.

Tudo isso no singelo ato de brincar, de rolar no tapete, de prestar atenção em um móbile.

Em uma fase da infância com um pouco mais de cognição, a partir de em média 20 meses, o ato de brincar já representa para a criança algo mais grandioso.

Segundo Freud, em seu brincar as crianças repetem tudo que lhes causou grande impressão na vida real. Assim, abrangem à força da impressão e, como se poderia dizer, tornam-se senhores da situação.

Isso significa que, no ato de brincar a criança consegue lidar de forma lúdica com os acontecimentos do dia a dia que mais lhe marcaram, exteriorizando essa energia e por fim, dominando-a.

Na rotina das nossas casas o brincar deve fazer parte de uma maneira natural, sempre pensando no brincar livre. Evite preocupar-se em estimular essa ou outra habilidade na criança, mas coloque atenção em oferecer um ambiente em que ela possa estar livre para se movimentar e explorar ao seu redor.

A importância do brincar

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Senta que lá vem história!

Já dentro dos nossos consultórios, o brincar é um tema muito sério, base para que os profissionais possam identificar possíveis patologias e ferramentas para tratá-las.

Uma das ferramentas de consultório que eu uso muito e que você pode fazer em sua casa é a contação de histórias.

Mas que novidade há nisso? Minha avó já lia histórias para mim!

Qualquer tribo indígena isolada tem alguém responsável por passar verbalmente as histórias do povo para as crianças, qual a grande novidade?

Exatamente por isso eu gosto tanto desse método: não há novidade nenhuma!

A contação de histórias remonta dos primórdios da humanidade, é uma conversa entre inconscientes e faz muito bem para quem conta e para quem ouve.

Para as crianças de qualquer idade ela tem uma propriedade bem importante, ajudando a escoar os problemas represados. A criança coloca-se em cada momento da história no papel de determinado personagem, vivendo plenamente aquela aventura como se fosse a dela.

Assim consegue experimentar o papel tido como de “malvado”, “bonzinho”, “super-herói”, todos estereótipos humanos que ela tem dentro de si e está aprendendo a lidar.

A importância da brincadeira para as crianças

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Imaginação vs. Fantasia

Falando sobre brincadeiras, contação de histórias e todo o universo lúdico que envolve o brincar livre de uma criança, tudo nos leva a refletir sobre Imaginação vs. Fantasia.

É muito saudável uma criança com imaginação, e uma criança que pode brincar e fazer seu trabalho dessa forma terá imaginação de sobra como combustível para ser uma pessoa criativa em sua vida adulta, capaz de vencer os desafios que a vida lhe apresentará.

Entretanto, quando falamos de infância, tudo é melhor com equilíbrio. Uma dose errada de imaginação vira fantasia em excesso e pode gerar alienação na criança.

E o que isso quer dizer? Segundo a educadora, médica e psicóloga Maria Montessori, até cerca de 5 ou 6 anos de idade existe uma linha muito tênue entre a Realidade (vida prática e cotidiana do dia a dia) vs. Imaginação (quando uma criança por meio da brincadeira copia a vida real).

A criança transita livremente e de forma natural entre esses dois mundos. Por isso, inocentemente ela acredita que seus personagens preferidos de fato existam. Aqui entra a dose de exagero dos tempos modernos – e talvez um pouco de consumismo exagerado, quando incentivamos essa adoração pelo personagem comprando diversos itens que remetam a esse personagem.

Ou seja, a criança o dia todo está em contato com algo fantasioso, o que reforça em sua cabecinha ainda mais a sua existência, passando assim do ponto da imaginação para a fantasia e a alienação total da realidade.

Naturalmente nossas crianças já nascem com uma mente muito fértil, o mundo em si já é um ambiente bastante cativante e curioso que as leva a buscar explorar e criar milhares de possibilidades diferentes. Não precisamos fazer muito esforço para estimular mais que isso. Quando deixamos que elas brinquem de forma livre e atentos para não podar a sua criatividade, já estamos fazendo um excelente trabalho e deixando que façam o seu trabalho: brincar livremente!

Quer entrar em contato com a Nínive, psicanalista infantil? ninivecav@gmail.com e @kinder_connect no Instagram.

Mãe da Helena, psicanalista infantil, fascinada pelo universo kids muito antes de participar ativamente dele - na época só o marketing preenchia os meus dias de trabalho. O que sempre esteve presente na minha vida foi o interesse pelo conhecimento, uma coisa bem geminiana, não é? E isso sempre me fez conhecer um pouco sobre cada assunto e hoje me trouxe até aqui.

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